quinta-feira, 26 de março de 2009

Conceituando as CIGs


A importancia da terminologia mais adequada


Como denominamos as coisas é algo mais importante - quando tratamos de assuntos de gênero - do que possa parecer.


Tod@ MtF ou FtM sabe como um "ele ou ela" pode machucar, ferir, humilhar, agredir, irritar.

Os artigos ditos "academicos" ou "cientificos" insistem em perpetuar terminologias agressivas como TRANSEXUAL MASCULINO - para uma MENINA MtF; ou transexual feminino - para um rapaz FtM, em nome de uma falsa padronização "acadêmica", uma "praxe acadêmica".

Cheguei a discutir com psicologos que em seus artigos ou teses e dissertações lnsistiram nesse desrespeito "pseudo-academico" - e a transformar amizades em inimizades e simpatias em antipatias por causa de terminologias desrespeitosas como essas. Por outro lado reconheço a correção de Dr.Jurado, PhD - um cirurgião muito importante, que ao escrever um capítulo em um livro médico me telefonou para se informar devidamente como usar uma terminologia correta e respeitosa - isso pelo ano 2000 aproximadamente.

Se um cirurgião educado pode, porque toda a academia não pode respeitar - e receber depois o devido recíproco respeito?

Ofender os outros não é praxe - é desrespeito, grosseria, para não dizer falta de educação e estupidez.

No passado mais remoto, nos idos dos anos 50 do século passado, no mundo ainda usava-se:

Transformista
Travesti
Transexual

de forma pejorativa sempre ou quase sempre. No bar como na academia.

Mais recentemente se usa

Crossdresser
Transgenero
Transexual

de forma menos pejorativa, mas ainda pejorativa - no bar, na rua, na mídia, na academia, no consultório do psicólogo ou psiquiatra, mesmo nas clinicas universitárias e academicas que pretendem ser "especialistas" no assunto - e frases jocosas e pejorativas são muito comuns em equipes de cirurgiões quando fazem cirurgias de redesignação - palavras que ficaram gravadas nas mentes de pacientes não bem anestesiados, quando não em vídeo.

Na classe médica - em suas porções mais esclarecidas - se procurou com o tempo abolir o termo transexual substituindo-o por Disforia de Genero - o que pode ser um erro, pois travestis/transgeneros também sofrem de uma disforia de genero como os transexuais - não é esse mal-estar (essa disforia) que os diferencia, o mesmo acontecendo com transformistas/crossdressers. Disforia de Genero é um termo-guarda-chuva, mas que não é adequado como termo classificatório e diferenciador de situações e condições essencialmente distintas, mesmo que similares.

Eu sugeri - neste fim de mundo chamado Brasil em 1999 - o termo Neurodiscordância de Gênero para designar transexuais por sua causa principal (termo usado por Dr.Jurado por exemplo) - sendo disfóricos todos - o que é mais correto - mas mesmo assim ainda impreciso no geral - por se basear numa causa simples - quando o sistema é complexo.

Mas muito antes de eu inventar algum neologismo português/tupiniquim suburbano, veio a DSM-IV (que já existia lá fora e no Brasil se desconsiderava) e inventaram o termo GID- em portugues Transtorno de Identidade de Genero (TIG) - patologizando-se todos indiscriminadamente. Foi o que de pior se poderia imaginar. Grilhões para amarrar e amordaçar a todos os pacientes, inapelavelmente classificados como DEPENDENTES pois DOENTES MENTAIS.

Todos pacientes precisam de uma TUTELA - não são autônomos, não podem responder por si mesmos.

$#@%¨&%$ - só isso posso dizer, sem verter para o vernáculo tupiniquim, por cortesia.

Precisamos de uma nova terminologia - e algumas novas conceitualizações tem surgido e podem surgir - mais abrangentes e corretas - ao mesmo tempo respeitando todas as condições, mas permitindo sua diferenciação absolutamente necessária.

Algumas propostas de uma nova terminologia têm surgido:

1. O uso POLITICO E IDEOLOGICO - principalmente nos USA - do termo transgenero como guarda-chuva. Muito usado pela comunidade LGBT/Queer - que enfoca a situação mais na orientação sexual que na condição de genero propriamente dita. Essa ideologia ganhou espaço nas duas ultimas décadas, mas começa a perde-lo quanto aos assuntos de genero.

Mas mesmo estando enfraquecida essa posição eminentemente ideológica, ela ainda tem força suficiente para vencer a terminologia DISFORIAS DE GENERO, ao mudarem o nome da HBIGDA - que usa o termo disforia de genero - para WPATH - que considera o termo transgenero em seu lugar.

Eu percebo nessa troca UM RETROCESSO, e uma vulgarização (pior, uma ideologização e deturpação) da conceituação, mas fui voto vencido na escolha do nome nessa sociedade da qual participo.

2. O uso do termo Condição Variante de Genero - CVG como guarda chuva, e os termos usuais - transexual, travesti/transgenero, transformista/crossdresser, todos como Disforias de Genero dentro do universo das CVG - e admitindo-se eventualmente situações de verdadeiros transtornos de identidade de genero. Essa percepção cresce, mas com problemas.

O problema principal é devido ao termo VARIANCIA - que indica também INSTABILIDADE ou não permanência, o que pode não ser o caso - ou seja, o termo é ambíguo e desagrada a muitos.

3. Estamos propondo e usando uma nova terminologia. Também tupiniquim - mas a tupiniquim agora está mais influente em alguns círculos mais abrangentes.

A lógica dessa terminologia é a seguinte.

As condições típicas - transexuais, transgeneros e transformistas podem ou não gerar uma disforia e podem ou não ter sua origem num transtorno mental, e podem ou não ser instáveis ou estáveis.

Mas O QUE É COMUM CERTAMENTE A TODAS ELAS?


O FATO DE TODAS SEREM - INCOMUNS

O fator que todas possuem certamente e que as une é o fato de serem todas igualmente INCOMUNS/INESPERADAS - então devemos classificá-las pelo que as caracteriza - como CONDIÇÕES INCOMUNS (ou inesperadas) DE GÊNERO - CIG

Qual a causa de serem incomuns/inesperadas?

A causa pode ser UM DESENVOLVIMENTO NATURAL INCOMUM ( gerando a diversidade comum aos sistemas fractais/naturais) ou eventualmente um transtorno mental como uma "anormalidade" (que ocorre muito raramente) - e essa CONDIÇÃO INCOMUM pode ou não gerar um mal-estar (uma disforia).


Então o melhor guarda chuva - é considerarmos o termo CIG em português (em inglês - UGC - uncommon gender condition).

Não importa a causa nem a intensidade - os desenvolvimentos são todos incomuns.

Causas e intensidades nos permitirão classificar diferenciando situações incomuns de outras para nos ajudar a desenvolver programas, maneiras de AUXILIAR quando necessário, CORRIGIR quando solicitado, necessário e possível, RESPEITANDO TODAS AS CONDIÇÕES, sempre.

Dentre as CIG's existem umas CONDIÇÕES EXTREMAS - que designamos como CONDIÇÕES INCOMUNS EXTREMAS DE GENERO - CIEG - que geralmente geram disforias, e podem ou não ser consequencias de transtornos mentais (mas raramente o são).

As condições extremas - CIEG's incluem transexuais e travestis (com uma diferença de intensidade - oriunda certamente de diferentes causas).

Sendo condições incomuns com possibilidade de condições extremas - nos vemos diante de um sistema FRACTAL.

Como TODO SISTEMA FRACTAL esse sistema de CIG's pode ser mapeado - conhecido - através de métodos modernos pelo estudo não-linear de séries temporais, e as situações podem ser RECONHECIDAS - ou DIAGNOSTICADAS se preferirem, fácil e rapidamente - a distancia.

Possiveis transtornos mentais sempre precisam ser pesquisados - usando-se por exemplo o MMPI - como se faz na grande maioria das equipes avaliadoras de CIGs no mundo - e só quando necessário, um acompanhamento mental deve ser considerado e programado quando certamente for detetada uma verdadeira condição de possivel transtorno mental causador dessa CIG ou CIEG.

Sem transtornos mentais, as comunidades - presenciais ou não, quando as famílias não promovem um apoio social - podem ser um suporte de base importante na caminhada CIG de qualquer tipo ou intensidade, durante uma transição quer MtF como FtM.

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