sábado, 28 de março de 2009

Queer como Construto

A teoria Queer é uma CONSEQUÊNCIA de uma posição ideológica construtivista social.

Então para compreendermos bem o que é a teoria Queer, temos que compreender bem claaramente O QUE É, DE ONDE VEM, QUAIS OS PONTOS DE PRINCIPIO - em que se baseia o construtivismo social.

O construtivismo social tem por base alguns pontos de principio:

1. É uma ideologia de fundo materialista - fundamentalista, no sentido de que tudo advém como epifenômeno da matéria;

2. Daí advém a idéia de que o homem não é - pois ele nada é além de um conjunto de partículas de matéria - mas ele pode vir a ser - pela sua vida, por sua história (construída socialmente em relação com o meio social).

3. Disso se estabelece que o homem é uma página em branco ao nascer - ele ao nascer não é humano - ele construirá sua humanidade vivendo e entrando em relação com o meio;

4. Assim o meio - a relação - constrói. Não se traz nada em essência, mas tudo se constrói apenas pelas relações com o meio;

5. Como consequência, existe uma forte negação da biologia como formadora do homem - a biologia é um mero meio - que não forma o homem nem lhe agrega nada - além de partículas inertes e pouco conexas - além da matéria em si.

6. A humanidade do homem então não tem relação com sua biologia, "sua parte mecânica ou animal", mas apenas com suas relações sociais.


Essa ideologia - que em resumo separa o homem em essência de sua biologia - e que busca considerar o homem como fruto absoluto de suas relações sociais - é muito antiga.

Ela advém do classissismo de Sir. Isaac Newton - que considerava que o universo - e o homem dentro dele - não era nada além de um relógio - uma máquina. Assim, os animais e vegetais eram máquinas vivas - autônomas - mas máquinas. E o homem em sua materialidade era uma máquina biológica - com um ALGO MAIS.

Esse ALGO MAIS, Newton não definiu, mas Descartes sim.

A coisa material (res extensa) - a máquina - seria essencial e fundamentalmente diferente da coisa mental (res cogitans) - por isso ele pode dizer penso, logo existo. Ele dava existencia real apenas à capacidade mental - humana - e negava esse direito à máquina material - e aos animais.

Esse ALGO MAIS no homem, seria uma chama divina, ou algo parecido.

O materialismo construtivista social, pensava exatamente assim, como Newton e Descartes, mas apenas consideraram que o Algo Mais seria algo também derivado necessariamente da matéria - como relações sociais entre humanos.

Isso tudo fazia sentido ATÉ O FINAL DO SÉCULO XIX.

Confesso que entre Descartes, Newton e os construtivistas, eu pensaria como os construtivistas - se eu vivesse no século XIX.

Mas eu vivo no século XXI.

Com o advento da percepção de que a matéria não era "classica" como imaginavam, e as relações entre partículas "não eram simples" como imaginava Newton, TUDO TERIA QUE MUDAR.

Afinal - TALVEZ O UNIVERSO NÃO FOSSE UMA MÁQUINA - e nele o mesmo aconteceria com nossos corpos. E talvez, não só as relações sociais viessem da matéria - mas nossas MENTES também proveniessem de alguma relação com ela.

Newton caiu - se relativizou, se mostrou uma condição particular, com seu "universo" - Descartes se mostra mais e mais equivocado - e assim também o construtivismo social que veio do século XIX.

Quem derrubou esses castelos de cartas científicos, foram alguns poucos cientistas no inicio do século XX. Os maiores que a humanidade já viu. Entre eles:

Planck
Einstein
Poincaré
De Donder
Heisenberg
Bohr
Born
Dirac
Schrodinger
Von Neumann
Bell

entre muitos outros.

Eles descobriram - e provaram em laboratórios, que o relógio de Newton nunca existiu - e que a relação mente-matéria era uma relação muito complexa - mas que estavam essas realidades todos relacionadas de forma muito complexa.

Dessa percepção, surgiram desenvolvimentos no inicio até meados do século XX, que mudaram a ciencia, e o que é científico e o que passou a ser pseudocientífico.

1. A energia não é contínua - ela se propaga em pacotes (Plank, Einstein);

2.A partícula material é partícula e onda AO MESMO TEMPO (de Broglie);

3. Sendo partícula e onda ao mesmo tempo, a matéria se propaga de forma ROVÁVEL mas não certa - em outras palavras a partícula material é não local - no sentido classico do termo - o que leva a uma função de onda de probabilidades para descrever a matéria (Schrodinger, Heisenberg)

4. Para estudar as continuidades e descontinuidades, a análise matemática de Newton e Leibnitz era insuficiente. Surgiu a TOPOLOGIA (Poincaré)

5. Num sistema seguindo o classissismo de Newton, se poderia medir ao mesmo tempo todas as variáveis de um sistema. Isso não acontece com a equação de onda de Schrodinger. Surge o conceito de INCERTEZA (Heisenberg)

6. A função de onda se propaga num espaço de variáveis complexas (de Hilbert), mas nós vivemos e percebemos um espaço de variáveis reais (Euclides), então quando observamos uma partícula, ocorre uma PROJEÇÃO OU COLAPSO do quantico (Hilbert) no classico (Euclides) - necessariamente - e quem provoca o COLAPSO da percepção é o ente vivo (humano ou não humano) (Bohr, Heisenberg, Von Neumann)

7. A matemática disso tudo era bastante complexa, e precisou ser elaborada toda uma nova terminologia e simbologia para se estudar esses assuntos (Dirac)

8. Tempo e espaço estão relacionados (Einstein)

9. A nova percepção sobre a matéria precisa se integrar à relatividade restrita de Einstein (Dirac, Feynmann)


E a partir daí, se descobriu a eletronica, os transistores, os chips, as TV's a cabo, os espectômetros de massa, as ressonâncias magnéticas, os métodos de sequenciar DNA, a ultrasonografia... os celulares, os PC's... a relação da mente do macaco acionando chips como mostra o professor Nicolelis (brasileiro que já merece um Nobel certamente), e assim por diante.

Espero que tenha ficado claro que o construtivismo social foi uma idéia científica até o final do século XIX.

Hoje insistir nela é algo claramente pseudocientífico.

Vamos para a teoria Queer mais precisamente. Tudo nela é construtivismo social.

1. A orientação sexual - como as pessoas se sentem atraídas - seria fruto das relações sociais somente. Quem sabe, do aprendizado - e alguns meninos mais espertos aprenderiam a gostar de meninas e uns mais tolinhos insistiriam em gostar de meninos. A culpa pode ser da mãe que não ensinou direito, quem sabe. Se o menino não é tolinho, a mãe é bem estúpida.

Por outro lado, existem meninos gays extremamente inteligentes - brilhantes, sensíveis. E muitos foram pouco influenciados pelas mães e pelo meio HETEROSSEXUAL em que viveram. Por outro lado pesquisadores encontram diferenças em cérebros entre gays e não gays - em genes de gays e não gays. E ESPÉCIES inteiras se mostram inabalavelmente heteros - como os Chimpanzés - nossos ancestrais - e os Bonobos - deles também derivados mostram um padrão generalizado de homo e bissexualidade.

A orientação sexual, em humanos e pongídeos nossos ancestrais NÃO DERIVA DE UM CONSTRUTIVISMO SOCIAL APENAS - mas certamente de uma biologia cerebral extremamente complexa.

2. Papeis de genero - cada um vive e se defende como quer e como pode - isso sim é construtivista social - em sua essencia.

3. Identidade de genero - auto-percepção de gênero. Não tem PRATICAMENTE NADA DE SOCIAL - e é quase tudo derivado ou embasado no biológico do cérebro. Comprovadamente por mais de 30 anos de pesquisa em inúmeras universidades no mundo. Sugiro que leiam "O MEU SEXO REAL" escrito por mim em 1995 e publicado em 1998 pela Vozes - ainda é mais atualizado do que qualquer outro texto sobre o assunto, em portugues.

4. Sexualidade - é uma variável hipercomplexa, que depende de tudo - da biologia, do cérebro, da relação cérebro/mente/coisa-lá-fora, do meio cultural, social, ambiental, familiar, do dia, da hora, dos cheiros, dos feromonios, do luar, da conta bancária do parceiro, da sua conta bancária, do carro conversível, das promessas do futuro, da tesão no presente, de estar bebado, drogado, sequestrado, preso.

A sexualidade depende de tudo - e nem tudo - aliás muito pouco é construtivista social.

Resumo - o construtivismo social tem uma abrangencia muito mais restrita - do que imaginaram seus idealizadores. Eles se basearam em premissas falsas - que no momento pareciam verdadeiras, mas que se mostraram falsas com o caminhar do tempo.

Os idealizadores viviam aquele momento, e naquele momento a idéia parecia viável.
Hoje não se mostra mais viável.

Hoje insistir nela, na maioria dos casos é pseudociencia.

Obrigada

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